01 abril 2011

Carta ao Cosmos

Querido Cosmos,


Venho por este meio pedir-lhe que permita ao doce desconhecido voltar a cruzar o meu caminho. Não suponha que é com puro egoísmo que peço tal intervenção. Quero apenas contribuir para uma maior eficiência de todos aqueles que colaboram consigo. Como sou mera mortal por vezes fico iludida com características superficiais. Creio que concebe a real identidade do mundo actual: é a imagem que governa. Desta matéria poderia-se escrever um longo texto sobre as novas formas de relacionamento relevando a virtualidade e ainda vaguear pela mediatização. Não quero perder-me em tal desvaneio! É certo, apenas, concluir que um ícone vale mais do que palavras.


Retornando ao assunto que me trouxe à sua morada, vou requerer com uma súplica egoísta que envie o Cupido de novo ao meu encontro. Ah! Pois claro, ele que traga o livre de reclamações! Pretendo, sem dúvida, dialogar, numa primeira instância, com esse desconhecido fazendo-o ver que as suas capacidades de incutir atracção não funcionaram comigo. Creio ser uma jovem de perfeita saúde descrita como a rapariga da porta ao lado mas com génio de borboleta logo, não julgo ser eu a causa de tal missão falhada. Supondo que possuo certas deficiências em aptidão social ou de qualquer outra natureza, continua a ser o senhor cupido o responsável pela eficácia do seu serviço! Ora um exímio atirador não pode ter só fama tem de ter já provas dadas: ou acerta o alvo ou erra ; ou sabe acertar ou alguma coisa está errada. Não quero contudo, duvidar da eficácia do serviço do querido estranho. Apenas julgo que talvez não utilize da melhor forma os seus recursos. Numa economia em crise, como a nossa, esta tarefa é determinante. Refiro com veemência que a mão-de-obra empregue foi com certeza um recurso bem utilizado. Talvez eu é que não tenha sabido explorar bem. Num pequeno à parte, se me é permitido: o senhor cupido é bem interessante. Não se zangue com o meu argumento como já lhe disse aqui na terra o mortal tem muita tendência a sucumbir a estes fúteis atributos. O senhor misterioso certamente entenderá. Se bem compreendi pelas aulas de história de arte ele é versado na arte do amor vindo de uma linhagem de exímios sedutores. Creio até que lhe dão o título de deus. Pois bem, não acha excelentíssimo Cosmos que tendo ele um curriculo tão expressivo eu deva reclamar pela tão fraca execução da tarefa?


Como sou uma rapariga prática antecedo algumas ilações passíveis de se fazer. Nego ser mais resistente ao contágio do elixir do Cupido. Até porque se lhe questionar verá que este não se mostrou rogado em cumprir da maneira mais convicente a sua tarefa. Adivinho que por necessidade de levantar as menores supeitas o doce estranho não ande por aí de arco em riste e assim opte por transportar o seu poder fatal, literalmente, em suas mãos. Isso explica o porquê de ser atingida pelo toque do Cupido no ombro. Com todo o devido respeito, digníssimo Cosmos, não se pode alegar para defesa do doce estranho que essa parte do corpo humano está habituada a receber todo o tipo de antídotos e por tal o contagio pode ser dificuldado. Queira entender que esse facto continua a atribuir a responsabilidade ao menino cupido. Por favor, não lhe permita safar-se com uma mentira piedosa ao referir que o “veneno” só vai fazer efeito daqui a algum tempo. Hoje em dia, com a DECO, o consumidor está mais esclarecido para estas artimanhas. Como sabe aqui pelo mundo ocidental estamos habituados ao imediato. Culpe a globalização. Olhe, culpe as redes sociais! Não me pode informar se por acaso o doce estranho tem facebook? Deduzo que seja adepto das novas tecnologias da comunicação na medida em que, na última vez que o vi, o seu melhor amigo era o portátil e a necessidade premente era a internet gratuita. Neste seguimento, já pensei em efectuar um busca mas teria de reduzir as opções com algumas características determinantes dele que não possuo. Não me parece que procurar exactamento por Cupido vá resultar pois como bem entendi ele realizou um árduo trabalho de disfarce para circular por entre os mortais que duvido que tenha deixado este grande pormenor passar ao lado. Vendo bem, prefiro um tête-à-tête com aquela entidade.


Não se pode também alegar que graças a um factor externo me tornei mais resistente ao vírus. A culpa continua a ser do Cupido. Responda-me sinceramente se acha que posso ser responsabilizada pelo Cupido ser um doce estranho de tal forma que o feitiço não reultou exactamento como ele previra? Chama-se plano de gestão de crises! Se me permitir conversar com o ilustre estranho posso, em nome de uma maior eficiência, explicar em que consiste tal estratégia de gestão. Não posso deixar de me sentir virtualmente magoada pela possiblidade deste facto constituir uma alegação de defesa do Cupido! Entre tantos disfarces teria de se assemelhar ao tipo de jovem pelo qual haveria uma maior probabilidade de instintivamente me sentir de certo modo mais atraída por? Aqui está uma pequena crise que, como tive a oportunidade de concluir, o senhor incógnita não geriu de imediato.


Depois desta tentativa de expor a questão tentando evitar muitos mais pormenores técnicos, volto a referir-lhe, amabilíssimo Cosmos, a importância de um novo encontro acidentado com o misterioso do outro dia. Preciso fazer-lhe algumas observações. Espero também obter algumas respostas por tal se tiver a gentileza reencaminhe este pedido e alerte-o para a real extensão destes meus apontamentos. Acrescento que não prevejo ter de exigir o livro de reclamações visto que o diálogo é a solução para esta questão. Se tantos outros mortais optassem por esta via creio que alguns subditos seus teriam férias. Atenda-me este pedido pois, com o devido respeito, não tenho muito tempo para ficar ao sol perto de um café com internet gratuita.

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